Vamos abordar as principais características fisiológicas do recém-nascido, que incluem o Sistema Respiratório, Sistema Cardiovascular,...
Vamos abordar as principais características
fisiológicas do recém-nascido, que incluem o Sistema Respiratório, Sistema
Cardiovascular, Sistema Hepático, Sistema Renal, Sistema Digestório, Sistema
Imunológico, Sistema Neurológico e Metabólico.
Sistema
Respiratório:
Entre as 24 e 30 semanas de gestação, os
pneumócitos do tipo II começam a secretar surfactante que é um fosfolipídio,
que diminui a tensão superficial e evita o colapso alveolar ao final da
expiração. Essa redução facilita as trocas gasosas e diminui o trabalho
respiratório.
Com as primeiras respirações desencadeia-se uma
série de eventos simultâneos: a conversão da circulação fetal para o tipo
adulto, esvaziamento do líquido pulmonar, estabelecimento do volume pulmonar e
das características da circulação pulmonar. Os movimentos respiratórios passam
de um padrão intermitente (fetal) para um processo contínuo. A frequência
respiratória nos dez primeiros minutos de vida varia de 25 a 105 movimentos
respiratórios por minuto. A média é de 60 movimentos respiratórios por minuto
nas primeiras 6 horas de vida, caindo gradativamente para 40 movimentos
respiratórios por minuto depois do primeiro dia de vida.
Sistema
cardiovascular:
Quando ocorre o clampeamento do cordão umbilical,
dá se a conversão da circulação fetal para neonatal, e a partir daí o neonato
tem sua primeira respiração. O volume sanguíneo do RN a termo varia de 80 a 90 ml/Kg de peso corporal, em contraste com o
volume do RN prematuro, que varia de 90 a 105ml/Kg.
O clampeamento tardio do cordão umbilical causa o
aumento da frequência respiratória devido aumento do volume de sangue, causando
sobrecarga cardíaca e elevação da pressão arterial, o que pode desencadear
crepitações e cianose.
A frequência cardíaca cai de 160 bpm, verificada
aos 5 –10 minutos de vida, para 130 bpm aos 60 minutos de vida.
Sistema
Hepático
No neonato, o sistema hepático é imaturo, a
bilirrubina é pigmento biliar amarelo e subproduto da degradação das hemácias. Com
o envelhecimento, as hemácias tornam-se frágeis e eventualmente são eliminadas
da circulação pelo sistema fagocitário mononuclear que removem as frações de
ferro e proteínas e as preservam para uso posterior.
Após deixar
o sistema fagocitário mononuclear, a bilirrubina se liga à albumina plasmática
e é chamada de bilirrubina indireta (não conjugada). Porém, ela precisa ser
conjugada (convertida em bilirrubina direta) para ser excretada. Esta
conjugação ocorre no fígado em conjunto com o ácido glicurônico, e com a
assistência da enzima glicuronil transferase o resultado é a bilirrubina
hidrossolúvel. O urobilinogênio e o
estercobilinogênio são compostos bilirrubínicos que resultam da degradação e
podem ser excretados na urina e nas fezes.
O acúmulo da bilirrubina não-conjugada (indireta) maior
do que a o fígado pode eliminar faz com que o recém-nascido desenvolva uma
coloração amarela (icterícia). Alguns fatores podem aumentar o risco de
hiperbilirrubinemia no recém-nascido como: asfixia e estresse por frio e
hipoglicemia.
Sistema
Renal
O Rim tem uma importante função na transição da
vida fetal para a vida pós-natal (pós nascimento). O fluxo sanguíneo renal
corresponde cerca de 6% do débito cardíaco e ao final do primeiro mês de
nascimento corresponde a 15%. A urina
começa a ser formada pelo feto a partir da décima semana de gestação e
contribui para a formação do líquido amniótico. Após o nascimento, 97% dos
recém nascidos eliminam sua primeira urina dentro das primeiras 24 horas.
Nos dias seguintes ao nascimento ocorre um aumento
do débito urinário com perda de 5 a 10% do peso corpóreo, ocasionado pela perda
de líquido, a função renal estabiliza-se em poucos dias, mas somente durante o
primeiro ano de vida é que o rim da criança iguala-se ao do adulto.
Sistema
Digestório
A coordenação entre sucção e deglutição ocorre em
torno da 34ª - 35ª semanas de idade gestacional, de modo que o recém-nascido a
termo consegue sugar e deglutir o leite materno adequadamente para suprir as
necessidades nutricionais.
No primeiro dia após o nascimento, a capacidade
gástrica é de 40 a 60 ml, assim as amamentações são mais frequentes e o tempo
de esvaziamento gástrico leva em média 2 a 4 horas. Após a amamentação é importante
segurar recém nascido com a cabeça elevada (colocar para “arrotar”), pois muitos
recém-nascidos regurgitam pequenas quantidades (1 a 2 ml) de matéria ingerida
por uma frouxidão do esfíncter esofagiano (anel muscular que contrai o
esôfago), porém esse refluxo gastresofágico é transitório e resolve-se com a
idade.
O intestino do recém-nascido é mais longo em
comparação proporcional aos adultos, possui mais glândulas secretórias e maior
superfície de absorção. A capacidade do recém-nascido de digerir nutrientes
depende da atividade enzimática e da acidez gástrica, sendo que a digestão do
leite começa no estômago e continua no intestino delgado.
O trato gastrintestinal estabelece uma colônia
bacteriana normal dentro da primeira semana após o nascimento, permitindo uma
síntese adequada da vitamina K.
Inicialmente o intestino do recém-nascido contém
mecônio, uma substância fecal espessa, verde-escura e inodora que consiste em
líquido amniótico, bile, células epiteliais e cabelo (da queda de lanugem no
útero os pêlos finos e macios que recobrem os ombros e as costas do
recém-nascido). Geralmente, o recém- nascido elimina o primeiro mecônio dentro
de 24 horas após o nascimento.
Com a presença de alimentos no intestino (leite), o
odor, cor e consistência das fezes se alteram para marrom-esverdeado e o teor
de água é maior do que no mecônio. O tipo de alimentação determina as características
das fezes subsequentes, o neonato alimentado com fórmulas lácteas as fezes são
pastosas, amareladas e de odor forte já o neonato alimentado com leite materno
as fezes são amarelo-vivo, mais liquefeitas e de odor adocicado.
Sistema
Imunológico
Ao nascer, o recém-nascido é exposto a substâncias
como bactérias e vírus que não estão presentes comumente no útero. Esta
exposição ativa componentes da resposta imunológica, geralmente o primeiro ano
é o período de maior vulnerabilidade às infecções graves. Às vezes as barreiras
de proteção (pele e membranas mucosas) não impedem a invasão antigênica e o
sistema imunológico inicia sua resposta humoral ou celular.
As imunoglobulinas específicas reagem com o
antígeno ativando o sistema complemento e uma série de reações químicas que
remove o antígeno do corpo. A imunidade humoral é mais importante contra
reinfecções bacterianas e virais. Já a Imunoglobulina G (IgG) é a mais
abundante, e é sintetizada em resposta as bactérias, vírus e fungos. A IgG materna é transferida para o feto por
meio da placenta, conferindo imunidade passiva adquirida (uma imunidade de
curta duração na qual não há produção de anticorpos), já a IgG fetal apareça em
torno da 12º semana de gestação e os níveis crescem significativamente no
último trimestre.
Os recém-nascidos tem proteção ampla contra grande
parte das doenças infantis desde que a mãe tenha anticorpos contra essas
doenças, como a IgG não age contra bacilos Gram-negativos (Escherichia coli e
Enterobacter), o neonato é mais suscetível a infecções por esses agentes. A IgG
da mãe se esgota em torno de três meses, e a Imunoglobulina IgM é a primeira
produzida pela estimulação antigênica. A IgM é o principal anticorpo na
incompatibilidade do tipo sanguíneo e em infecções por bactérias
Gram-negativas. A IgM materna não atravessa a placenta e em torno da 20º semana
de gestação o feto produz IgM em resposta à exposição ao antígeno ela também
provê uma imunidade ativa ou seja uma imunidade permanente resultante da
estimulação antigênica por meio de inoculação ou da imunidade natural, níveis
elevados de IgM no neonato podem indicar infecção perinatal.
O principal anticorpo do revestimento mucoso dos
intestinos e brônquios é a Imunoglobulina A (IgA), ela aparece nas secreções
corpóreas, não atravessa a placenta e comumente está ausente no recém-nascido. Em
combinação com proteínas mucosa, a IgA é secretada sobre as superfícies mucosas
como um anticorpo secretório, além do que está presente no leite materno
conferindo uma imunidade passiva ao lactente. A IgA secretória também limita o
crescimento bacteriano no trato gastrointestinal.
A Imunidade celular indireta é mais aparente nas
inflamações e é realizada pelas células T, essas reconhecem o antígeno,
mobilizam os macrófagos tissulares e na presença de fator de inibição
migratória desencadeia reações químicas que converte os macrófagos em fagócitos
que irão destruir os antígenos. Esta imunidade celular indireta também é
adquirida passivamente ao neonato através do aleitamento materno.
As infecções congênitas são aquelas adquiridas
ainda no útero e resultam da exposição a vírus como citomegalovírus, rubéola,
hepatite B, herpes simples, herpes-zoester, varicela e Epstein-Barr ou agentes
nas virais como: toxoplasmose, sífilis, tuberculose, tripanossomíase e malária
coletivamente esses agentes são denominados de TORCH. As infecções por TORCH
podem causar uma ampla faixa de sequelas, desde aborto espontâneo e morte fetal
até infecções explícitas ou assintomáticas ao nascer. O feto pode ser infectado
por organismo que chegam à bolsa amniótica por meio da cérvice materna ou pela
placenta.
Sistema
Neurológico
O sistema neurológico do recém- nascido, embora não
esteja totalmente desenvolvido, poderá realizar funções complexas necessárias
para regular a adaptação do neonato como: estimular as respirações iniciais,
manter o equilíbrio ácido-básico e regular a temperatura corporal.
A função neurológica do recém-nascido é controlada
principalmente pelo tronco cerebral e pela medula espinhal, o sistema autônomo
e o tronco cerebral coordenam as funções respiratórias e cardíacas. Todos os
nervos cranianos estão presentes ao nascimento, porém, os nervos não são
totalmente recobertos pela substância essencial (mielina) para uma transmissão
suave do impulso nervoso.
Ao nascer, o cérebro necessita de um suprimento
constante de glicose como fonte de energia e de um nível relativamente alto de
oxigênio para manter um metabolismo celular adequado. O estado de oxigenação do
neonato e os níveis de glicose sérica devem ser avaliados e monitorados
cuidadosamente, a fim de se detectarem o comprometimento das trocas gasosas e
sinais de hipoglicemia. No desenvolvimento do trato nervoso as vias nervosas
sensorial, cerebelar e extrapiramidal são as primeiras a se desenvolverem, isto
responde pelo forte senso de audição, paladar e olfato do neonato.
Os reflexos do neonato classificados como
alimentares, protetores, posturais e sociais incluem reflexos primitivos como a
sucção e o reflexo de procura (que leva o recém-nascido a se virar em direção
ao mamilo e procurá-lo). Esses reflexos servem de base ao exame neurológico do recém-nascido,
a persistência de reflexos neonatais além da idade em que eles comumente
desaparecem pode indicar anormalidades neurológicas.
Metabolismo
O choque térmico do nascimento, a asfixia relativa
ao trabalho de parto e a necessidade de fontes de energia independentes, bem
como de oxigênio, levam aos principais distúrbios metabólicos do nascimento:
hipóxia, hipoglicemia e hipotermia.
Antes do nascimento o feto depende integralmente de
mãe para o fornecimento de glicose para o metabolismo energético e para síntese
metabólica. Com o nascimento há uma interrupção do fornecimento de glicose,
fazendo com que durante as primeiras horas de vida o recém-nascido atinja os
menores níveis de glicemia.